Vocês podem achar que actualmente é complicado organizar uma prova de Orientação, mas garanto-vos que antes de se usar o SportIdent era bem pior. Nessa altura usavam-se picotadores (são aquelas coisas vermelhas que agora servem de backup ao SI) e cartões de controlo para validar a passagem dos atletas pelos pontos, pelo que depois era necessário proceder à verificação de todos os picotados, comparando-os com uma matriz feita anteriormente, o que numa prova com algumas centenas de participantes não era tarefa simples e exigia uma equipa de várias pessoas. Esta tarefa era ainda muito mais complicada em caso de chuva, já que muitas vezes os cartões chegavam ao fim num estado lastimável.
Armando Rodrigues a verificar cartões em 1989. |
Verificação de cartões no Open do Inatel em São Pedro de Moel (reparem na atenção do Joaquim Rendeiro!) |
Ao chegar à Arena era preciso ir ao Secretariado levantar os cartões, que já estavam devidamente preenchidos com os nossos dados e tempo de partida. Os mais precavidos usavam umas bolsas de plástico, que mantinham a integridade do cartão, alguns costumavam plastificá-los, sendo depois fixos ao pulso por um fio (agora que pensei nisso, senti saudades de sentir o cartão a esvoaçar ao vento durante a corrida, ou a ficar preso nas vedações…). Entretanto, após prolongadas buscas, foi possível encontrar um papel (tyvek) impermeável, resistente aos rasgos e com um custo razoável, com o qual a FPO imprimiu cartões que fornecia posteriormente às organizações.
O uso dos cartões implicava uma logística mais complicada nas chegadas para registar a hora de chegada dos atletas. No princípio era necessário ter dois elementos na linha de meta, estando um responsável por dizer alto os tempos de chegada de cada atleta, que era registado pelo outro numa folha. O cartão era então recolhido por outro elemento, e mantido na mesma ordem de chegada sendo que os mais precavidos espetavam-nos num "espeto", pois era um drama se caíssem no chão (aqui entre nós que ninguém nos escuta, isso aconteceu algumas vezes… mas não digam a ninguém!), sendo posteriormente feita a devida correspondência entre a “pilha” de cartões e os tempos registados.
Ricardo Nogueira a cronometrar a chegada do Paulo Alípio em Mafra, há bué de tempo! |
Na fase final do uso deste sistema (sim, porque ele foi evoluindo com o passar dos tempos) era entregue uma senha numerada (aquelas usadas nos supermercados) a cada atleta que cruzava a meta, que era posteriormente era agrafada ao seu cartão de controlo. Simultaneamente havia um elemento que na linha de meta marcava um “splitime”, num cronógrafo (relógio da Seiko adquirido pela FPO, que andava de prova em prova), que imprimia esse tempo numa lista associada a um número de ordem. De seguida os tempos eram associados ao cartão de controlo respectivo e depois era só fazer as contas (por vezes os tempos eram lançados numa folha de Excel, pelo que as contas ficavam facilitadas).
O inicio da utilização do SIdent veio facilitar muito trabalho dos organizadores e permitiu também a utilização de áreas mais pequenas para as provas, já que é impossível desrespeitar a ordem de execução dos pontos, o que com o cartão era impossível de confirmar. Por outro lado os cartões facilitavam a afixação de resultados, já que, após a verificação de resultados e cálculo do tempo de prova, bastava agrafá-los num fio esticado horizontalmente por ordem de tempos, podendo ser deslocados para entrar um tempo melhor.
Definitivamente a Chegada já não é o que era!!!
Já me fizéste rir!!!
ResponderEliminarAbraço
AA
Usei durante muito tempo os cartões de controlo e sempre dentro da minha mente inocente de criança com 6/7 anos me questionava como é que conseguiam anotar tantas horas de chegada no final visto que algumas pessoas chegavam ao mesmo tempo.
ResponderEliminarObrigado pela explicação e depois de todos estes anos foi bom esclarecer uma dúvida destas.
Comprimentos
Diogo Barradas
Olha que em muitos casos as chegadas ainda são o que eram....! Nas nossas provas do DE do quadro competitivo local da Península de Setúbal, em que costumamos ter cerca de 200 participantes em cada uma das 5 ou 6 provas entre Dezembro e Março/Abril, ainda usamos o cronómetro, o cartão de tyvek impresso na relgráfica e a senha de supermercado. Verdadeiras provas clássicas (não me refiro à antiga nomenclatura da distância...)em que o "relógio" das partidas é um marcador de voleibol e o dos "bips" um relógio de cozinha (cedido pelo Isaú) amarrado a um espeto, com o petisco final da correcção dos cartões :-) E não é isso que impede que muitos dos nossos valores de referência na modalidade por aqui tenham andado ou andem ainda... Não fora a modernice de usarmos o CONDES e imprimirmos em gráfica especializada (mas também já usámos, há uns anos, o "carimbo" do CIMO e sinaléticas feitas à mão...), para muitos destes jovens atletas seria mesmo começar pelos primóridos para desembocar na ribalta.
ResponderEliminarAbraço a todos!
Pois foi.
ResponderEliminarNos primórdios destes quadros competitivos do Desporto Escolar fui dar uma acção de formação de organização de provas aos meus colegas de Setúbal, em que a "estrela" foi o carimbo de marcação de percursos.
Na fase posterior de marcação dos percursos, a partir do Condes, com impressão numa jacto de tinta a cores houve um dia, numa prova no mapa da Lagoa de Albufeira, em que o percurso da Alice tinha uns pontos na praia de Meco e outros no mar. Era um duatlo :)
1 abr
JB
Quando se usava o cartão de controlo, a organização tinha que fazer antes da prova uma matriz para cada percurso, para depois poder confirmar os cartões dos participantes.
ResponderEliminarUma das cenas mais hilariantes que se passou comigo na organização de uma prova foi a fazer as matrizes dos percursos. Para ser mais rápido, colocava os suportes da prova à volta da minha casa, mas como devem imaginar numa prova com cerca de 80 pontos os suportes davam a volta à casa mais do que uma vez!
Depois, um elemento com uma folha onde estava escrita a sequência dos pontos em cada percurso, começava a gritar para outro que tinha um cartão de controlo na mão e corria para o suporte com o numero indicado pelo primeiro.
Do prédio ao lado, não imaginavam o que se estava a passar, olhavam com alguma estranheza para duas almas que corriam de um lado para o outro, cada um com um papel na mão e um deles a dizer bem alto, 31, 33, 54, 76.....
Demorei bastante a escrever este texto, porque metade do tempo passei a rir à gargalhada, a lembrar-me da cara dos vizinhos!!!
Outro aspecto importante que acontecia, era depois da confirmação dos cartões, vários elementos serem desclassificados por causa dos picotados não baterem certo, mas os desclassificados em desespero jurarem que estiveram no ponto. A solução era nomear alguém que corresse bem para ir o mais rápido possível ao posto de controlo confirmar os alfinetes dos alicates. Muitas vezes chegava-se à conclusão que quem colocou os alicates no suporte não teve cuidado e tinha dois alicates diferentes no mesmo suporte. Os que controlavam no alicate que não era igual ao da matriz, eram provisoriamente desclassificados e tudo isto atrasava a cerimónia de entrega de prémios!
É curioso que mesmo com todas estas peripécias havia menos protestos do que agora!!
Estes processos são muitos comuns ainda aqui no Brasil. Devido sua extensão territorial não é possível transportar equipamento para todas as atividades de orientação, por isso o picotador e a apanha do tempo é prática comum. Já trabalhei usando o cronômetro SEIKO e hoje não o tenho mais, já estou a procura há algum tempo para adquirir para meu clube.
ResponderEliminarTomaz - Brasil
Ao ler o comentário do Ricardo Chumbinho e das sinaléticas desenhadas à mão, recordo-me de ter desenhado todos os símbolos no paint e nas provas do Estarreja estar com o Carlos Lisboa a fazer o "copy-paste" símbolo a símbolo :p
ResponderEliminarDaniel Filipe