Comentários

Estou à espera das vossas histórias!!!

Agora os comentários mais recentes ficam visíveis aqui ao lado. Os comentários a crónicas antigas já não ficam "perdidos" e todos sabemos o que isso custa...

Now the top chronicles will also be available in English. Look for the tag ENGLISH to see all of them. Have fun!

domingo, 28 de agosto de 2011

Os sons da cartografia



Já me tenho várias vezes referido ao trabalho de cartógrafo com sendo solitário, o que no meu caso é um facto, mas isso não implica que ele seja silencioso. Pelo contrário as florestas têm muitos barulhos e nem todos são tão agradáveis como o chilrear dos passarinhos.

Para começar quero referir um "ruído" que é uma companhia constante e que é uma opção minha. Estou a falar da rádio, que escuto por um único auricular (com os dois sinto-me demasiado alheado do que me rodeia), que está normalmente sintonizado na Antena 3 e ocasionalmente na Antena 1. Esta minha companhia permite ajudar a passar o tempo e representa muitas vezes o único elo que mantenho com a civilização, que está completamente ausente à minha volta.

É claro que este ruído constante e auto-infligido já tem potenciado alguns sustos, quando se produz algum outro barulho perto de mim, quer seja a queda dum ramo, algum animal em fuga (aí curiosamente os coelhos são os mais assustadores, já que tentam passar despercebidos, só fugindo no último momento, mesmo debaixo dos meus pés) ou mesmo o frequente crepitar duma pinha a abrir.

Existem depois alguns sons artificiais, que fazem arrepiar o mais empedernido cartógrafo - as motosserras!

Essa máquina do Demo, que quando ruge numa área já cartografada prenuncia trabalho acrescido, seja porque um bosque se vai transformar numa clareira, seja porque um tronco já assinalado no mapa, se está a converter em lenha para a lareira.

Por razões óbvias este ruído é mais frequente em florestas de eucaliptos, mais usadas em mapas de O-BTT e muitas vezes falo com os madeireiros para saber o que vai ser cortado, permitindo-me assim cartografar clareiras por antecipação. Claro que nestes casos se verificam muitas vezes orquestras de motosserras e/ou de máquinas pesadas, que são autenticas devoradoras de florestas. O que é verdadeiramente imprevisível nestas situações, é em que estado irão ficar os caminhos após a extracção da madeira.

Embora com alguma sazonalidade e previsibilidade na sua ocorrência, existe um outro ruído que ainda consegue ser mais assustador e que justificava a atribuição de um subsídio de risco aos cartógrafos - os caçadores!

Aquilo que à primeira vista pode parecer uma apreciada companhia para combater a solidão, revela-se invariavelmente em momentos de pânico de ser confundido com algum coelho ou de ser apenas alvo de alguns chumbos perdidos. Nos dias de caça uso a minha roupa mais berrante e manifesto ruidosamente a minha presença sempre que tal se justifica.

Existe ainda um outro sector profissional com o qual me cruzo frequentemente - os pastores! 

Também eles são vítimas da solidão e raramente desperdiçam uma oportunidade de a combater, mesmo que isso signifique interpelar um alienígena, que se movimenta de forma estranha pelos pastos. Esses encontros são uma bênção também para mim, que aproveito para cavaquear um pouco e sacar algumas informações sobre os proprietários das áreas ou sobre algumas curiosidades locais. Como alguns destes encontros se vão repetindo ao longo dos dias por vezes estabeleço verdadeiras relações de camaradagem, apenas ao alcance que quem partilha as mesmas agruras diárias.

Entre os vários pastores com quem me tenho cruzado, não posso deixar de destacar um que encontrei em São Torpes, que interrompia as já de si desconexas conversas comigo, para interpelar directamente Deus, com o qual afirmava ter uma relação próxima e directa.

Um destes dias fui confrontado com um outro ruído que também se revelou assustador - um helicóptero de combate a incêndios!

Como devem calcular não é muito agradável estar numa floresta com um enorme potencial ígneo, sob um calor abrasador e saber que pode estar a lavrar um incêndio nas proximidades (com a agravante de ouvir falar dele na rádio). Admito que comecei logo a delinear planos alternativos de fuga, que no limite passaria por sacrificar o meu carro, parqueado a mais de um km. Nessa altura é o sentido do "faro" que assume uma maior preponderância...

PS: a quem interessar, informo que já recomeçou a época de caça!

1 comentário:

  1. Também posso contar 2 histórias que se passaram comigo mas em supervisão. Quase sempre ando sozinho quando vou verificar as fitas ao terreno, a que me meteu mais medo foi na Nazaré que quando andava no meio da mata andavam sempre carros a passar e a parar no meio da mata e a olharem para mim a sairem do carro e persegirem-me um bocado, vim a saber no dia da prova que aquela zona é muito frequentado por muitos "voyeures". Na serra da Estrela tive duas situações, uma foi o guarda florestal chamou a GNR para ver quem eu era e o que andava ali a fazer e na outra foi num dia de temporal conheci um pastor e estive na conversa com ele cerca de 1 hora a contar coisas da vida dele na serra e suas aventuras.

    ResponderEliminar