Por Dinis Costa
O cajado é do pastor e o chocalho é do gado.
O cajado, o pau tinha que ser bem escolhido, pau mole e direito, sem ser resinoso, com um comprimento que desse para apoiar as mãos em concha, uma sobre a outra, com queixo apoiado nas costas da que fica por cima, em postura de pastor. Peça de sátira entre companheiros, quase irmãos, risos e galhofa.
Burilar um cajado, fazer neste gravuras a ponta e gume de navalha - navalha estilete, era obra de arte. O cajado era uma peça de ritual que se iniciava no final do treino, logo que conhecidos os tempos, dava-se a passagem do testemunho, até ao início do próximo. Neste período o cajado era companheira de cama e mesa.
Este tipo de rituais é saudável em grupos unos, coesos, cria relação, solidariedade e fortalece o grupo onde o fracasso individual é absorvido por todos. O prémio do cajado “espécie de mascote” era punição psicológica que visa ser superada na primeira oportunidade.
A mesma prática usada em grupos disformes, a meio ver, pode produzir efeitos nefastos pois, com frequência, nestes casos, é dada primazia ao ridículo individual que exclui. A punição simbólica é aplicada a quem o grupo quer e tem de ajudar, trazendo-o para dentro pelo ensinamento.
Por isso proponho a abolição do chocalho e entre o pastar e borregar (o borrego ainda não os tem) escolho o último pois, a associação entre chocalho e pastar cria a imagem cerebral de animal com chifres.
E, destes faz-se a ponte para a lua - quando cresce ou mingua, desta para a mulher – pelos seus ciclos - e desta para a traição, e daqui para o armar: por os ditos. É certo que hoje já não há cabeça de casal, e sem cabeça não há lugar de “enfeitamento”!? (… ), e, por outro lado, borregar também pode significar gritar…”pedir ajuda, viste o nº.x…”
O cajado, faz de um praticante pastor, diz ao grupo que ele é pastor, quer dizer que não pasta, quando muito movimenta-se ao sabor do rebanho, que se movimenta de acordo com o chamamento do pasto.
Mas, o cajado também é memória, pelos seus trabalhos “decoração”que contam uma história; revela a geografia dos estágios/treinos, a memória das viagens e suas atribulações ou seja, o cajado instituísse quase como um monumento, memória do passado que exclui quem não esteve presente, ficou ali gravada toda a oralidade, das palavras ditas e não ditas, a partilha de momentos de convívio os bons e os maus.
Assim, quem transporta o cajado tem-no à sua guarda e é responsável pela sua segurança, até passar o testemunho, transporta-o, mas este não lhe pertence, só tem o seu uso fruto: que é temporário e imposto e sempre vigiado pela “chacota”do grupo.
O cajado é um símbolo, - memória do grupo em experiência - foi a sua significação pressentida que te levou a guarda-lo.
Uma preciosidade, uma peça de museu “… para memória futura”.
(*) Lido o teu artigo, recordei, e escrevi este pequeno apontamento que se destinava a ser “comentário” do mesmo.
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