Em virtude de ter um razoável domínio da língua da língua inglesa, sou com alguma frequência empurrado para a tarefa de tradutor, onde tenho que fazer um enorme esforço para superar a minha timidez. Vou de seguida contar-vos três dessas situações, que como é óbvio envolveram algum embaraço, pois caso contrário não teriam lugar aqui.
O meu primeiro “contrato” oficial de tradutor foi durante o Congresso da IOF, que decorreu em 1998, em Sintra. Na verdade neste caso era até mais do que apenas tradutor, já que estava a desempenhar tarefas de mestre-de-cerimónias. Acho que até me estava a desenrascar razoavelmente, mas o pior estava para vir. Após o banquete de encerramento, havia um membro da Direcção da IOF que tinha que ser chamado para receber um prémio, pelo que lá meti cordas-à-obra! E chamei a Iordanka (até aqui tudo bem, até porque já a conhecia pessoalmente) o pior foi a parte do apelido: Melnikliyska (agora olhando com mais calma até parece que não é assim tão difícil…). Confesso que aqui me espalhei ao comprido e foi uma risada geral (como é habitual devo ter corado de orelha a orelha). O que vale é que a visada também encarou a situação com um sorriso e tudo ficou bem.
Felizmente o meu desempenho como tradutor/speaker não impediu que esse Congresso da IOF, tivesse sido considerado um grande sucesso organizativo.
A minha segunda prestação com tradutor ainda foi mais desafiante, pois consistiu em fazer tradução simultânea durante a Prova de Aventura Raid do Guadiana – em 2004. Para os menos informados a tradução em simultâneo consiste em estar numa cabine com uns auscultadores, onde escutamos os discursos e ao mesmo tempo estamos a traduzir, para ser escutado por quem está na sala com auscultadores. Na prática enquanto estava a traduzir para inglês uma coisa que tinha acabado de escutar, já estava a escutar outra para traduzir. Garanto-vos que não é tarefa fácil, desde logo porque como sabem a construção das frases em inglês é muito diferente do português.
Apesar de tudo acho que até estava a conseguir traduzir a maior parte das coisas, apenas com algumas abreviações (é do senso comum que o inglês é muito mais conciso que o português…). As coisas complicaram-se quando o representante do turismo das “Terras do Grande Lago” (Lands of the Great Lake) começou o seu discurso. Para além de falar depressa, enumerou os méritos das “Terras do Grande Lago” até à exaustão, apenas para voltar a falar novamente nas “Terras do Grande Lago”… Já perceberam que comecei a ficar um pouco cansado de repetir “Lands of the Great Lake”, algumas dezenas de vezes e inebriado pelo poder que tinha na boca, disse ao microfone: “I’m sorry, but I´ll stop translating because it’s just bla bla bla”.
O problema é que na minha ingenuidade, não antevi a reacção que isso acabou provocar: uma gargalhada de todos os que estavam a escutar a versão inglesa, que era a maioria dos gringos, enquanto eu me afundava na cadeira e também literalmente… (eu não referi mas tinha ao lado uma colega profissional, a traduzir para francês).
A terceira situação aconteceu mais recentemente, durante o Campeonato Mundial de Ori-BTT, que decorreu no ano passado em Montalegre. Durante a Cerimónia de abertura, lá fui outra vez endrominado para traduzir para inglês os discursos oficiais do Presidente do COP, do Presidente da FPO e do Presidente da CM de Montalegre. E o problema foi mesmo este último, que estava manifestamente entusiasmado por receber tantos estrangeiro na sua terra, pelo que falava durante muito tempo, abordando várias ideias distintas, que eu tinha que memorizar e traduzir posteriormente (aqui acho que me debati logo com o dilema terrível, se devia memorizar já em versão inglesa ou ainda por traduzir).
Como já devem ter adivinhado (ou recordado os que estiveram presentes), acabei por tropeçar nos meus próprios pensamentos (ninguém me tira da cabeça que foi uma entrada à margem da lei de algum vocábulo inglês). Mais uma vez consegui arrancar uma gargalhada geral à plateia (espero que na maioria dos casos por solidariedade e compreensão), mas desta vez não me fiquei e mandei todos se calarem, pois eu estava a fazer o meu melhor ( I'm trying to do my best here. Shut up!”).
Felizmente, eu logo no inicio já tinha avisado os gringos que esperava ser melhor cartógrafo que tradutor… A verdade é que no final alguns dos indígenas locais vieram me felicitar, pois a minha tradução teria sido melhor que o original e ainda propuseram ao Presidente da CM, que me contratasse para futuros eventos. Não posso deixar de referir que o Sr. Presidente encarou toda a situação com um sorriso.
Lamentavelmente esta última situação ficou gravada para a posteridade, e numa demonstração de ausência de sentido do ridículo, disponibilizo acima para verem (agradeço ao Paulo Rocha - Activideo, pela cedência do mesmo).
Lamentavelmente esta última situação ficou gravada para a posteridade, e numa demonstração de ausência de sentido do ridículo, disponibilizo acima para verem (agradeço ao Paulo Rocha - Activideo, pela cedência do mesmo).
The best of Luís Sérgio!!
ResponderEliminarCompanheiro, foram "n" as situações semelhantes que vivemos juntos... e tu sempre no teu melhor. Acho que essa tua timidez é um dos teus melhores trunfos!
Tenho pena de não ter assistido ao “I’m sorry, but I´ll stop translating because it’s just bla bla bla”. LOL...
Esta do WOCMTBO tbm esteve power!!!
Grande abraço
Esta Ultima tive o prazer de assistir ao vivo :)
ResponderEliminarassisti à última! foi hilariante!! gostei principalmente do discurso em tom político do Sr. Presidente da Câmara... os gringos (como lhe chamas) às tantas já o aplaudiam antes de falares simplesmente pelo seu entusiasmo! foi muitoooo bom!
ResponderEliminar