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quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ainda sou do tempo em que se carimbavam os percursos nos mapas!


Esta afirmação deve parecer estranha à maioria de vocês, mas é mesmo verdade que na década de 80 e princípios de 90, se usava um carimbo gigante para imprimir os percursos nos mapas. O sistema designava-se por Mulle, era de origem Sueca (de onde mais poderia ser...) e na FPO existiam dois deles, que andavam numa roda viva por todo o país!

Como já referi antigamente eram impressas algumas centenas de mapas na gráfica, que eram posteriormente usados em treinos e competições, havendo necessidade de imprimir os percursos. O sistema Mulle consistia em duas placas sobrepostas, sendo que a inferior tinha uns entalhes, onde se colocava o mapa sempre no mesmo local e uns encaixes para a placa superior, que era amovível. Era nesta última que se colavam as borrachinhas que tinham os vários elementos do percurso em relevo (triângulo, chegada, círculos, traços de união, copo, números, etc.).
 
Vou tentar descrever todo o processo, indicando exaustivamente os passos  por ordem cronológica. O objectivo desta lição é que todos vocês fiquem proficientes nesta tarefa, pois com esta crise pode voltar a ser necessário...

1 - planear os percursos e desenhar cada um deles individualmente num mapa;

2 - colar fita adesiva de duas faces na placa superior (deve ficar uma área adesiva sensivelmente do tamanho do mapa);


3 - colocar o mapa com o percurso nos entalhes da placa inferior (não se esqueçam de insistir com a gráfica para ter muito rigor no corte dos mapas, pois qualquer desvio irá reflectir-se na qualidade do processo. Tentar usar mapas do mesmo maço, pois tiveram previsivelmente um mesmo corte);

4 - colocar o triângulo, a chegada e os círculos em cima do mapa, nos locais correspondentes, com a parte em relevo voltada para baixo;

5 - pegar na placa superior e encaixá-la na inferior, por forma a que os elementos colocados no mapa fiquem colados na fita adesiva;

6 - molhar o "carimbo" na almofada. Não tinha referido ainda mas sim, como qualquer carimbo, este também tem uma almofada gigante, que está embebida em tinta magenta (que saudades que eu tinha do cheiro característico daquela tinta... valeu a pena ir à FPO só para snifar a almofada);

7 - com o carimbo já embebido em tinta, voltar a encaixar na placa inferior, imprimindo assim esses elementos no mapa;

8 - verificar a posição dos elementos impressos e corrigir algum que esteja fora do sitio;

9 - colocar todos os elementos complementares (água, passagens obrigatórias, caminhos interditos, escalão e duas miras) em cima do mapa e proceder à sua colagem;

10 - colocar a placa superior numa mesa com os elementos voltados para cima e usar as tiras de vários tamanhos que têm uma linha em relevo, para unir os vários pontos. Quando necessário usar duas ou mais tiras (evitar ao máximo cortar estas tiras);

11 - proceder à numeração dos pontos, que pode ser feito colocando os números em cima do mapa, mas é mais fácil fazê-lo directamente na placa superior. Como os números são colados invertidos, prestar especial atenção ao algarismo 4, pois é frequente ficar mal colocado.

Neste momento o carimbo está pronto, pelo que se pode dar inicio ao processo de impressão, que requer duas pessoas. Uma delas fica encarregue de ir colocando os mapas na posição certa na placa inferior e após impressão retirá-los, verificando a sua qualidade (olhar em particular para as miras para confirmar acerto). A outra pessoa limita-se a molhar o carimbo na almofada e pressioná-lo sobre o mapa (deve estar atento à qualidade da impressão e adicionar mais tinta na almofada se isso se justificar.

Como já perceberam esta era uma tarefa delicada e morosa, pois tinha que ser repetida para todos os percursos. Era muito importante definir uma ordem de impressão que permitisse usar o máximo possível do percurso anterior, para minimizar o trabalho.

Nos vários clubes foram surgindo verdadeiros experts neste processo, entre os quais destaco o Paulo Marques - AAMafra (marido da Teresa), pois desempenhava esta tarefa com um rigor e qualidade invejáveis. Por falar nele... Onde é que raio pára o Paulo Marques???
Este sistema pode parecer arcaico (e agora é) mas na altura era verdadeiramente revolucionário, pois antes dele os percursos eram desenhados à mão, sendo cada um deles uma obra de arte única.

Não deixa de ser irónico que após quase 20 anos de desuso, eu me tenha dado ao trabalho de fazer o melhor manual de utilização do sistema Mulle, de sempre!!

Infelizmente a maioria das borrachas estão completamente estragadas, parecendo quase gomas. Parece que a relação da borracha com a tinta não é muito boa e só as palavras em sueco e os escalões mais velhos (-65 -70 -80) estão em boas condições, por terem sido pouco usadas.

PS: Numa próxima crónica conto-vos a melhor estória que envolve o Mulle e um "roubo" de fita...

5 comentários:

  1. Boas
    Eu também sou do tempo destes destes carimbos, e num Campeonato do Exercito, alguém (um iluminado) resolveu cortar as beiras dos mapas, mas antes de os carimbar, moral da história, eu tive logo o azar de ter um mapa desses, com o percurso todo deslocado e para terminar a prova tive de me contentar em ir a traz de um atleta que entretanto apareceu com o percurso certo, mesmo assim cada vez que eu tentava ir-me embora chegava a zona dos pontos e não sabia onde procurar pois os alguns dos pontos estavam mesmo fora dos círculos (é claro que o atleta que me deu boleia venceu a prova).


    Sousa

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  2. Eu sou um homem com tempo, que se esforça para ser sempre do tempo.
    Fogo! Fogo! Fujam que é fogo!
    Marcar mapas numa noite que o fogo varreu a floresta e deixou suas marcas. Na parte final, do primeiro dia, houve atletas decididos que ainda percorreram o recorte, do verde e negro, recorte de lagarta em brasa, em busca do laranja e branco.
    Houve momentos de pensamentos trágicos, temia-se pela segurança. Mas Héstia (e o outro) protegeram a “família” da orientação.
    A organização era do Estarreja, que há época tinha uma dinâmica em crescendo, eu estava lá (tinha uma estima cega e generosa por todos), na qualidade de “juiz controlador” e perante a situação e análise ponderada da mesma, a organização pôs mãos à obra.
    Assim, em horas nocturnas e tardias, em casa do Almeida Presidente, foi marcar mapas, numa azáfama de alegria e profissionalismo mecanizado, com este equipamento que hoje é olhado com desconfiança e desdém.

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    1. Tratou-se do Campeonato Nacional de Distância Clássica de 96/97, no mapa Estarreja III.
      Lembro-me perfeitamente desta situação e da tarefa que o Dinis acabou de descrever.
      ... e também de usar a "maquineta" com as fita-cola amarelas de dupla face.

      Daniel

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  3. Fiquei cansada só com a descrição! Ainda bem que nunca tal me calhou em sorte. Adorei, Luís Sérgio!

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  4. Muito, mas muito bom... Felizmente já não sou deste tempo, embora hoje existam "processos" com noitadas... ;) ;) ;) Lembro-me de uns distantes "5 Dias da Ria", estava eu a chegar, e o primeiro pincel (só percebi depois): fazer o livrinho da prova...
    Muito bom!!!
    Abraço,
    Rui Morais

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