Por: Rui Botão
Há cerca de 20 anos atrás praticamente não se ouvia falar de ski em Portugal. Era um desporto que víamos um pouco na televisão durante os meses de inverno, mas nunca pensávamos em praticar.
Não sei bem como, o ski começou a crescer em popularidade e hoje qualquer um pode fazer ski em Portugal na estância da Serra da Estrela. Embora seja pequena em número de pistas e extensão das mesmas, os Portugueses deslocam-se até lá para praticar o ski. No entanto os mais aficionados, ou aqueles com mais possibilidades financeiras, escolhem deslocar-se ao estrangeiro onde os locais para a prática do ski são bem melhores e onde se podem divertir mais.
Com a orientação passa-se exactamente a mesma coisa. A orientação cresceu muito em Portugal (embora esteja agora numa curva um pouco descendente) e felizmente já somos muitos a usufruir de bons momentos nas nossas ‘florestas’. Temos fans do montado alentejano, autênticos fanáticos dos pinhais de ‘Leiria’, outros juram pelas montanhas do Gerês e temos mesmo o grupo dos amigos das nossas aldeias históricas. Mas lembram-se do que aparece sempre escrito nos nossos mapas? ‘Orientação, o desporto da floresta’. O problema é que não existe ‘floresta’ em Portugal…
Aqueles que já tiveram a sorte de praticar orientação nos países nórdicos de onde ela é originária sabem bem o que digo. Por lá pratica-se uma orientação diferente e bem mais divertida. As paisagens são muito mais acolhedoras. A extensão de floresta utilizável para as provas é infinitamente maior. A qualidade técnica dos terrenos não se compara. As sensações que temos são muito mais agradáveis. Enfim fazemos um desporto com o qual nos conseguimos deliciar muito mais.
Já tinha tido esta sensação em situações anteriores, mas andar de bicicleta no meio daquelas árvores todas é indescritível. Nunca tinha sido organizada na Suécia nenhuma prova internacional de orientação em BTT. O segundo campeonato do mundo de veteranos em Ori-BTT (juntamente com a World Cup de MTBO) ia ser a primeira. Confesso que estava um pouco apreensivo e tinha dúvidas que os terrenos fossem realmente bons para a prática da modalidade. Principalmente depois de ter ouvido vezes sem conta, e várias vezes vindo de atletas estrangeiros de algum nome, que em Portugal tínhamos muito bons mapas para a orientação em BTT. Mas aquilo que vi e senti deixou-me de boca aberta desde que tive oportunidade de interiorizar as sensações.
Fiz o caminho para a primeira partida debaixo de chuva muito intensa. Foram quase 4kms em que fiquei encharcadinho até aos ossos. Como podem imaginar a sensação era tudo menos de conforto. O começo da prova foi igual a tantas outras que já fiz até hoje. Colocar o mapa no suporte, ver bem a opção para o primeiro ponto e tentar ver mais um ou dois pontos. Partir depois dos beeps do relógio e arrancar concentrado e com cuidado até ao primeiro ponto. Sinceramente não senti nada de especial. Foi uma pernada igual a tantas outras. Mas depois comecei a relaxar e a desfrutar daquilo que me estavam a oferecer. Sinceramente acho que já não apanhei chuva durante a prova, mas não posso jurar. Desconforto por estar molhado desapareceu completamente. A lama que havia no terreno não me incomodou nada. Eu já só via trilhos a serpentear por entre as árvores. As montanhas russas que as ondulações do terreno proporcionavam eram espectaculares. O abrir e fechar da floresta era digno de um qualquer quadro do melhor pintor. As raízes e pequenos ‘drops’ nos caminhos eram um desafio para a minha suspensão e provocavam aqueles arrepios que nos fazem sentir tão bem. Depois de tempos a tempos apareciam os estradões onde a ‘talega’ nos permitia as grandes velocidades.
Quando terminei a Susana já estava na arena à minha espera. Não foi coincidência nenhuma quando nos atropelámos com a expressão «Isto é espectacular, não é!?». Estávamos muito sujos, cansados, a chuva ameaçava novamente, mas ambos tínhamos a certeza que só por esta hora na floresta já tinha valido a pena a viagem. Acreditem que não estou a exagerar. Nunca, mas mesmo nunca, me diverti tanto a andar de bicicleta.
Nos dois dias que se seguiram tivemos mais sorte com o tempo. A floresta era um pouco diferente, mas igualmente espectacular. Com mais caminhos numas zonas e menos caminhos mas mais opções noutras. Como o mapa era atravessado de alto a baixo por um rio serpenteante, tínhamos a possibilidade de atravessar um cem número de pontes construídas em madeira por autênticos arquitectos paisagísticos. Quase que valia a pena escolher a opção por uma ponte diferente, só para desfrutar do ‘atravessamento’. Chegámos ao fim com aquele sentimento de perda que sempre temos quando algo de muito bom termina, mas com a certeza absoluta que dentro em breve iremos repetir a experiência.
Se tiverem possibilidade e gostarem de andar de bicicleta no meio da floresta, por favor não deixem passar uma oportunidade que seja para experimentarem outros tipos de terrenos.
Até breve, algures numa verdadeira floresta,
Link para um vídeo da competição:
site da prova:
Sem comentários:
Enviar um comentário